*Contribuição do engenheiro agrônomo Ari José Fernandes Lacôrte.
A suplementação proteica e proteica energética a pasto vem crescendo bastante no período de inverno ou seca no Brasil.
Esta suplementação no verão é menos expressiva e seus resultados devem ser avaliados com mais cuidado de acordo com a estratégia do rebanho em especial no abate e na cria de leite e corte.
Enquanto no inverno busca-se evitar a perda de peso ou ganhos modestos ao redor de 0,2 a 04 kg/cabeça dia, no verão procura-se um adicional a ganho positivos sobre o ganho de peso a pasto de animais suplementados apenas com sal mineral.
Em média, em todo verão agrostológico, que o período de chuvas na primavera e no verão, ou período de águas, este ganho está ao redor de 0,5 cabeça dia variando bastante para cada categoria e as exigências nutricionais como recria, vacas em lactação ou engorda e qualidade da pastagem.
Os suplementos mais usados, tanto no inverno quanto no verão, são o sal mineral proteico e sal mineral proteico energético.
Além do “pagamento” do consumo dos suplementos derivado do quanto se gasta adicionalmente com cada suplemento versus o retorno em ganho de peso animal, vale lembrar que benefícios econômicos também são importantes como antecipação do abate, aumento do rendimento de carcaça no caso do suplemento proteico energético, recuperação ou manutenção do escore corporal de matrizes e antecipação da idade de reprodução de novilhas , sendo estes 2 últimos benefícios muito importantes na cria de rebanhos de corte ou de leite.
Um aspecto fundamental na suplementação a pasto é a disponibilidade de forragem.
A literatura indica níveis de 2.500 a 3.000 kg de MS/há equivalendo ou 12,5 a 15 toneladas/ha de forragem verde.
Esta disponibilidade de pasto pode ser avaliada visualmente pela altura de pasto ou amostragens quantitativas da disponibilidade de forragem nos piquetes em manejo.
Tanto no manejo rotacionado ou estacionário a lotação, que é o número de cabeças/hectare, deve ser ajustada para suprir forragem até o final do tratamento com o suplemento.
A forragem portanto independente de sua qualidade não pode ser quantitativamente limitante a suplementação proteica ou proteica energética.
O período médio de suplementação em geral é de 90 a 120 dias.
No verão a variação do teor de Proteina Bruta (PB) na Matéria Seca (MS) das pastagens varia de 8 a 10%.
Em alguns casos a literatura mostra níveis maiores mas para forragens em rebrota muito jovens entre 21 e 28 dias.
Para as exigências nutricionais de bovinos níveis ao redor ou menores que 8 a 9% de PB na MS as pastagens mesmo no verão podem ser limitantes ao desempenho em todas categorias.
No caso da engorda a exigência em PB entre 14% e 16% para altos ganhos a pasto com deposição de gordura, propiciando bom acabamento de carcaça.
Os Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) em pastagens segundo a literatura no verão ficam entre 60 %, suficientes para a recria e produção de leite ao redor de 10 l/dia mas em alguns casos limitantes para acabamento de carcaça e altas produtividade em vacas em lactação.
Para vacas em lactação normalmente as limitações das pastagens de altas produtividades são corrigidas com o fornecimento de concentrado (“ração na ordenha”) usando a regra de 3kg de ração/dia para vacas a cada litro de leite superior a até 10 litros usando-se a regra de mais 1 kg de ração de lactação a cada 3k adicionais de produtividade no leite.
A escolha do tipo de suplementação dependerá da meta de desempenho a ser alcançada e a indústria de nutrição animal fornece suplementos com os perfis resumidos na tabela 1.
Tabela 1: Perfil dos suplementos proteico e proteico energético de mercado.
Suplemento | PB em % da MS | NDT em % da MS | Consumo médio esperado. | Necessidade de cocho |
Sal Proteindado de verão | 20 a 25% | Sem energia | 2 a 3 g/kg de peso vivo | 10 cm/cabeça |
Sal Proteico Energético (ano todo) | 25% | 60% | 3 a 5 g/kg de peso vivo | 30
cm/cabeça |
PB= Proteína Bruta NDT= Nutrientes Digestíveis Totais
Estes suplementos se diferem basicamente pelo consumo individual e presença de energia (NDT), no caso do proteinado a diferença é o nível de PB, o Proteinado de inverno em geral tem 50% de PB praticamente o dobro do proteinado de verão.
Já o suplemento proteico energético pode ser usado o ano todo com o mesmo perfil sem alteração em POB ou NDT.
Na maioria dos suplementos além de todos macro e micro minerais há a inclusão de ionóforos que são aditivos que melhoram a fisiologia do rúmen dando maior estabilidade ao PH e digestibilidade da fibra e aproveitamento energético da dieta total, pasto mais suplemento.
Os aditivos mais comuns são a monensina sódica e virginiamicina.
Em todos os suplementos há inclusão de ureia como parte da PB contida nos suplementos e podem ser usados com segurança no verão devido a boa mistura, homogeneidade e níveis pequenos de inclusão ureia ao redor de 5 a 10%.
Apresentamos na tabela 2 uma simulação financeira para o uso dos dois suplementos considerando um bezerro de 200 kg de peso vivo, preço da arroba a R$ 290,00 e custo de R$2,94/kg do Proteico e R$2,95/kg do Proteico Energético.
Tabela 2: Simulação financeira de custo e receita diárias na suplementação a pasto.
SUPLEMENTO | CONSUMO/DIA | CUST/DIA | GANHO ADICIONAL | RECEITA DIARIA | LUCRO POR DIA |
USADO NO VERÃO | EM R$ | EM R$ | DIARIO EM KG DE PV | ESTIMADA EM R$ | EM R$ |
Proteinado | 0,4000 | 1,18 | 0,200 | 3,87 | 2,69 |
Proteico Energético | 1,000 | 2,95 | 0,350 | 6,77 | 3,82 |
Nos dois casos o resultado financeiro é positivo de R$ 2,69/dia para o proteinado e R$ 3,82/dia para o proteico energético considerando um ganho financeiros com 50% de rendimento de carcaça que é o prêmio do aumento do ganho de peso vivo na recria de bezerros.
Lembrando que o investimento em infraestrutura de cocho é maior na suplementação proteica energética.
No caso de bezerras de leite este aumento antecipa a entrada dos animais em serviço de reprodução e no caso de bezerros de corte antecipa a idade de abate.
Para o proteico energético, no caso do gado de corte há ainda aumento do rendimento de carcaça de acordo com o tempo de tratamento a pasto que geralmente superiores a 54%, aumentando a receita individual por animal abatido com esta suplementação no verão quando comparada com a suplementação mineral a pasto.