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COPLACANA Convida

Precisamos retornar ao cuidado, parando de utilizar “mudas de paiol” no plantio de cana-de-açúcar

Tempo de Leitura: 7 min

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*Contribuição do engenheiro agrônomo e consultor Nilton Degaspari.

Como um eterno aprendiz, é desafiador, particularmente na cadeia produtiva sucroenergética, deixar o produtor de cana satisfeito em função da sua história, que se iniciou em 1.520, com a introdução da cana no Brasil pelos portugueses.

O objetivo deste artigo é tentar mapear nossas experiências de forma a aproveitar a nova mentalidade da geração atual de produtores, no sentido de estimular neles uma solução produtiva como substitutiva da tradicional.

Assim, pela observação detectada das demandas do setor, no sentido de chegarmos na produção (TCH) de “três dígitos”, abordaremos uma alternativa que achamos viável e necessária e que seguramente poderá agregar valor para as soluções dos problemas atuais, que fazem esta cultura destoar das outras como: soja, milho e algodão, que crescem em produtividade a cada ano.

A Postura conservadora dos produtores deste setor, atrelada ao distanciamento dos órgãos de pesquisa científica, talvez seja um dos fatores dessa onda de resultados indesejados e por isso iremos apresentar a seguir uma ferramenta importante para solução, baseada em tecnologia e que possa convencer os novos produtores: que uma mudança é necessária.

A partir dessa premissa, as Cooperativas e Associações têm um papel importante na geração de um plano de gestão estruturado e consistente, com o objetivo de desenvolver uma comunidade, profissionalizada de novos produtores com a implantação das novas tecnologias existentes , de acordo com o perfil do produtor de cada região, portanto, os produtores que desejam produzir e ter sucesso no seu negócio, precisam se adaptar e utilizar as novas ferramentas disponíveis e é sobre isso que trataremos neste artigo, abordando o uso da MEIOSI com MUDAS PRÉ-BROTADAS ( MPB) e ROTAÇÃO DE CULTURAS, no ambiente de produção de cana .

Voltamos a tratar deste assunto pois, nota-se muita barreira para adoção desta tecnologia entre os produtores e muita dificuldade da assistência técnica, transferi-la aos usuários.

A atividade de produzir cana tem muitos desafios e dentre eles, o de apurar os custos de produção, esta questão não é o forte do produtor, eles têm um baixo conhecimento deste valor.

Para eles se interessarem pela MEIOSI com MPB e ROTAÇÃO DE CULTURA, teremos que, de forma padronizada começar a apurar os seus custos, para  contabilizar a real economia desta tecnologia.

Observa-se que atualmente nasce uma nova dinâmica de produtores de cana, nesta onda de migração da produção de cana das usinas para os fornecedores tradicionais ou mais recente, para seus filhos.

O sistema de MUDAS PRE-BROTADAS (MPB), integrado à MEIOSI e plantio intercalar com LEGUMINOSAS é uma tecnologia idealizada para modernizar este setor, com a utilização de variedades de cana com rastreabilidade, sem mistura varietais e com sanidade.

Essa tecnologia restaura os benefícios de formação de mudas em viveiro utilizadas na década de 80, porém agora formadas no próprio local do plantio comercial.

Explicando melhor este sistema integrado da MEIOSI, que consiste em adquirir as mudinhas de MPB em viveiros credenciados, as quais virão acondicionadas em bandejas, que deverão ser armazenados no campo, no local de plantio e sobre a superfície do solo. Necessitarão de irrigação diária, podendo ficar armazenada no campo, por cerca de 7 a 10 dias.

  • Detalhe importante é o planejamento do produtor de cana: as mudas deverão ser adquiridas com vários meses de antecedência, não existe “muda de prateleira”, tem variedades que podem levar 18 a 24 meses para serem entregues, pois a sanidade é garantida pela reprodução via micro-meristema, em laboratório credenciados, as quais deverão ir ao campo, para produção dos colmos, de onde se extrairão as gemas, para produção das mudas de MPB.

O espaçamento entre as mudas de MPB deverá ser de 60 cm entre plantas, consumindo 11.110 mudas/ha, plantadas preferencialmente, no período de junho a outubro.

Antes de serem transplantadas, elas deverão ser embebidas em tanques com água (meio tambor de 200l), sendo as mesmas plantadas manualmente com matracas ou por transplantadoras, de uma ou duas linhas.

No plantio manual, primeiramente deve-se abrir um sulco normal de plantio, aplicando adubo, inseticida para controle de cupins, broca e fungicida, cobrindo-se numa mesma operação. Neste sulco, será plantado a muda de MPB com a matraca, utilizando-se em média 2 homens dias/ha.

Por outro lado, as transplantadoras mecânicas de duas linhas fazem toda a operação numa só vez, utilizando um tratorista e mais duas pessoas sobre a máquina, colocando as mudas no rotor de plantio e mais 1 pessoa fornecendo as mudas nas caixas de distribuição, que caminha sobre o terreno. Uma plantadora de duas linhas chega a plantar 4 a 6 ha/dia.

Logo após o plantio, as mudinhas necessitam ser irrigadas com 10 litros de agua/m de sulco na primeira irrigação e de 7 a 5 l/m nas irrigações seguintes. Geralmente para o seu pegamento, necessita-se de 4 a 6 irrigações, dependendo da época e da textura do solo. O uso de gel ou produtos à base de ácidos húmicos e fúlvicos no sulco de plantio poderá reduzir o número de irrigações, que podem ser realizadas por caminhão pipa ou trator com carreta com tanque, utilizando pressão constante.

A cultura intercalar (soja, amendoim ou adubo verde) será semeada no período das chuvas, outubro a novembro, em faixas de 24 a 30 m de largura, o que representa de 16 a 20 linhas de cana no momento da DESDOBRA do viveiro.

Lembremos que essa “linha mãe”, será o nosso viveiro e como tal, necessitará de “roguing” para eliminar as touceiras doentes e as misturas varietais, que normalmente ocorrem, devido a brotação de touceiras remanescentes da cultura anterior em reformas. Geralmente faz-se de 2 a 3 passadas de “roguing”, a partir de 30 dias após o plantio das mudas de MPB, retirando-se as plantas doentes( carvão, escaldadura e mosaico), no caso da doença denominada “carvão”, deve ser realizada, antes que os “chicotes” se abram e disseminem os esporos da doença, anotando-se em fichas apropriadas o número de plantas encontradas com anomalias.

  • Índices aceitáveis de sanidade para viveiros, para as principais doenças da cana-de-açúcar (comunicação pessoal – Dr. Alvaro Sanguino):
  • Carvão: menor ou igual a 2% de touceira atacada, na somatória das amostragens
  • Mosaico: menor ou igual a 2% de touceira atacada, na somatória das amostragens
  • Raquitismo e escaldadura: amostras contaminadas (método de amostragem Dot Blot) acima de 5%, na concentração de 105 UFC/ml (UFC=unidade de formação de colônia) – não são recomendadas para uso como mudas no produtor de cana ou em viveiros de multiplicação.

O tratamento especial dedicado durante o desenvolvimento vegetativo das mudas no viveiro, requer controle principalmente de broca e no mínimo uma cobertura com N e K (fórmula 25-05-25 ou similar)  na base de  300 kg/ha em janeiro.

A grande vantagem deste sistema de produção de mudas   é a diminuição dos custos, por serem produzidas no local do plantio, não necessitar de transporte, pela redução do consumo de mudas, pois utiliza-se de 3 a 5 t/ha de toletes, dependendo da variedade e época da desdobra, enquanto no plantio convencional manual, utiliza-se cerca de 12 t/ha e no mecânico de 17 a 22 t/ha . Outras vantagens podem ser lembradas tais como: utilizar menos mão de obra para corte e distribuição de mudas, 2 a 3 homens dias/ha, contra 8 a 10 diárias no sistema tradicional, não havendo necessidade de picação do colmo, por ser este bem jovem e possuir gemas aptas a brotarem rapidamente, menor incidência de falha e doença, utiliza-se tratores de média e pequena potência para sulcação e cobrição e retomada rápida do plantio em dias de chuva.

Realizada a colheita da área intercalar (soja ou amendoim), faremos o plantio manual, cortando a cana das “linhas mãe” (desinfestar os facões com fogo ou amônia quaternária) distribuindo os colmos nos sulcos ao seu lado, 8 a 10 sulcos de cada lado da linha, quando se utilizar  MEIOSI com duas “linhas mães”, distribuindo os colmos no “sistema de corrente”, cruzando pé com ponta cerca de 10% do tamanho do colmo, o que geralmente resultará em 8 a 12 gemas/m linear de sulco.

Importante ressaltar que, a medida que o usuário desta tecnologia vai assimilando o processo, essa relação de 1:8, pode chegar facilmente para 1:16 e neste caso, o plantio de uma linha será suficiente e os ganhos serão ainda maiores.

Esta tecnologia além de reduzir erosão e enriquecer a vida do solo, reduz drasticamente o uso de máquinas pesadas durante o plantio, resultando em maior equilíbrio e sustentabilidade desta cultura pois, gera-se menos CO2, menor demanda de mão de obra, menor esforço do plantador, por não ter que subir na carga de muda e puxar as mudas da pilha de cana, maior ganho do trabalhador experiente, que chega a obter uma diária de $ 200 a $300,00.

Outra grande vantagem deste sistema é a venda da sobra da cana, que seria gasta no plantio convencional pois, essa cana não será enterrada como muda e sim, colhida e enviada para a indústria para extração do caldo, gerando renda ao produtor, além da receita dos cereais produzidos intercalarmente.

Contabilizando-se os custos e receitas do plantio neste sistema, conclui-se que o produtor terá uma redução em torno de R$ 4.000,00/ha, além de se ter uma produtividade maior, pela disponibilidade de nutrientes gerada pela rotação de culturas, aumento da longevidade do canavial e maior resposta desta muda sadia, aos usuários de Bioestimulantes: hormônios, enzimas, extrato de algas, aminoácidos…recomendados atualmente.

Assim, este manejo ou sistema vem ganhando espaço, devido aos grandes benefícios que o mesmo proporciona ao setor, pelo menor custo de produção e maior produtividade, o que gera maior lucratividade ao fornecedor de cana.

ANTES DO PLANTIO, EMBEBER AS MUDINHAS ARMAZENADAS NO CAMPO, EM TANQUES COM ÁGUA.

SISTEMA MEIOSI DE UMA LINHA COM MPB, RELAÇÃO 1:16

Distância entre a linha mãe e a cultura intercalar de 1,5 m, facilidade para realizar “roguing”, a partir dos 30 dias após plantio.

MOMENTO DA DESDOBRA COM MUDAS NO LOCAL DO PLANTIO, “sistema de corrente”, consumindo de 2 a 3 diárias /ha e 3 a 5t/ha de muda